As “Saudades da Terra” redigidas, em diversos volumes, no final do séc. XVI pelo Pe. Gaspar Frutuoso, micaelense, são um valioso documento sobre a realidade da Macaronésia nesse tempo recuado. O segundo volume é inteiramente dedicado à Madeira. Os manuscritos originais nunca foram publicados em vida do seu autor, tendo por este sido entregues à guarda do Colégio dos Jesuítas de Ponta Delgada, onde permaneceu até 1760, ano em que esta Congregação foi expulsa de Portugal, tendo posteriormente passado a mãos particulares. Nesse período terão sido feitas algumas cópias manuscritas deste valioso documento, uma das quais feitas a pedido de ou adquirida por António d’Azevedo, Capitão do Real Corpo de Engenheiros. No final da primeira metade do séc. XIX este ofereceu uma cópia à Câmara Municipal do Funchal, que em 1844 ordenou que dela fosse feito um duplicado. A mesma faz parte da valiosa colecção de manuscritos da Biblioteca Municipal do Funchal e apresenta-se num grande volume de capa dura, intitulado “Câmara Municipal do Funchal”, gravado a ouro, um trabalho executado na oficina de encadernação de F. H. Camacho, na Madeira. Este volume contém 158 fólios e apresenta uma cuidada caligrafia. Considerando que foi escrito à pena, o método utilizado na época, supõe-se que deverá ter levado ao seu anónimo autor diversos meses para completar esta paciente tarefa. Na folha de rosto desta cópia manuscrita estão patentes o antigo selo da Biblioteca Municipal do Funchal que, em 1844 tinha apenas seis anos de existência, assim como o antigo selo da nossa edilidade, encimado pela Coroa Real. Esta obra está disponível para consulta, sendo a sua cota a seguinte: S1 E8 P4.

Acrescente-se, a título de curiosidade que, por seu turno, o primeiro dos seis volumes da obra do Pe. Gaspar Frutuoso a ser impresso foi precisamente este segundo tomo, no Funchal, em 1873, muito provavelmente com base nesta cópia manuscrita, sendo enriquecido com valiosas anotações de Álvaro Rodrigues de Azevedo, estudioso multifacetado a quem a Madeira muito deve a nível cultural. Encerramos esta breve nota com a indicação de que, devido à sua fulcral importância para o estudo da História da Madeira, tal obra foi reeditada numa edição fac-similada, pela Empresa Municipal “Funchal 500 Anos”, em 2007.